Todos os momentos sao, por definição estranhos.
Do latim "extraneu", exterior, logo este momento é em si uma singularidade externa a todos os outros momentos.
Estranho, ou fora do habitual, melhor dizendo, pode ser o tricotar das coisas num dado momento.
Num canto, dos muitos cantos do cérebro, alguém, uma luminária de centro direita, hoje sem poleiro, diz o mesmo que toda a esquerda, num arrazoado qualquer acerca do atentado à cultura que foi entregar o Oceanário à iniciativa privada.
O Borderline em mim fica pronto a saltar logo para um comportamento que, dizem os entendidos, o tipifica: acessos de "raiva" por motivos aparentemente insignificantes para o comum dos "normais":
Quem raio disse aos "normais" que encerrar animais em frascos de vidro (sim, não importa se são grandes ou não) é cultura?
Quem raio vos disse que levar criancinhas em fila pela mão a ver "isso" não é ensinar-lhes a tomar como "normal" a violência, a soberba da nossa espécie?
Tanto quanto sei a exploração de animais indefesos fica, por todos os motivos e mais um, muito melhor à iniciativa privada, seja lá o que isso fôr.
Acontece que num outro canto qualquer da minha atenção eternamente dispersa apareceu a Laura, uma Laura sem apelido, nem sei se francófona se flamenga, aliás deixei de Saber.
Não aceito sequer a discussão sobre a eutanásia.
Se alguém me diz, num poço de dor, que quer partir, o único direito que tenho é de sentir mágoa pela ausência que antevejo.
E, de ajuda-lo/a, na medida dos meus conhecimentos ou competências.
Que podem ser nenhuns, ou podem ser ler-lhe aquele livro, ( lembras-te? ) uma outra vez.
A "sociedade" meter o nariz não é aceitável.
Assunto da esfera privada.
E no entanto Laura...
Enquanto deixo um rio de raiva crescer no peito contra aquela mulher azeda que gosta de peixes em gaiolas e lhe chama cultura,tenho DÚVIDAS Laura.
Tento ir, ao sabor do rio de raiva, a sitio inimagináveis..... quem, dos "normais", pode jurar que uma criança não Sabe e não Sente eternamente na carne que não foi desejada no ventre materno e isso ser uma condenação, uma noite eternamente sem estrelas ?
Eu não.
E no entanto, tenho dúvidas.
Não te posso olhar nos olhos...perguntar-te estupidamente, outra vez, tens a certeza?
Já o disseste, mais do que aos teus, em privado, aos teu pares em Tribunal.
E.......no entanto......tenho dúvidas.
Sei, num lado que de raiva nada tem , que fizeste, num instante, todas as Grécias do mundo serem o que são: Nada, ao pé de cada um de de nós.
Sei.....Nada.....tenho dúvidas, Laura.
Posso imaginar-me 24 anos è espera de mim mesmo, mas não mo faz vivê-lo:
É que eu não sei Laura.
Tenho dúvidas.
Trocava de bom grado insultar aquela senhora bem falante que pensa que cultura é condenar animais a prisão perpétua, por um vislumbre que fosse do sítio onde estás.
Desculpa-me, mas não acredito, que se alguém aí souber ir ter, não queiras aproveitar por momentos a companhia. Só por momentos Laura, sei bem: os humanos podem ser uns chatos.
Partilhar uma lágrima ou outra...ver o rio violento de dor que também vai no peito do outro, e....vir de volta também.
Não tem que ser logo.
É tão longo o tempo da dor.
Ou não vir.
Ficarmos ambos.
E não, não disse que estou contra a tua decisão.....só que tenho Dúvidas.
http://observador.pt/2015/07/01/belgica-concede-direito-de-morrer-a-rapariga-de-24-anos-com-uma-depressao/