Enquanto Compositor, com especial prazer por espectáculo de palco, um dos melhores "cachets" que recebi foi, após mais uma representação de "Os Olhos De Gulay Cabbar", um Solo de Dança Contemporânea com Olga Roriz, no Teatro "A Comuna", ali à Praça de Espanha, ouvir, enquanto iam saindo, o comentário duma amiga (suponho) para a outra, ambas na casa dos 30, diria eu, mau nessas coisas de aventar idades:
"Bolas, há mais de seis meses que não me esquecia da lista de compras"
That's my job!
Fazê-la esquecer a "lista de compras", não que se lembre do nome do "mágico" que fez desaparecer a lista.
Dar, para o ser, é um acto invisível.
De outra forma, queiramos ou não, é, para o outro, dívida!
RE-LIGARE:
Desde miúdo pequeno que me irritam os padres e freiras.
Não gosto de ameaças, que era o que proferiam, nem de privilegiados, que o eram e ainda são.
Mas, porque tive de valsar com a Morte desde cedo, o principal Crime, e de conivência com os diversos Poderes que vão servindo, é a apropriação que fizeram dos principais ritos Humanos, que me assustou desde logo:
Nascimento, Casamento, Morte!
Assunto que nos levaria longe, houvesse lareira, a noite fosse de inverno e a vossa paciência....eterna!
É na diferença que reside a nossa melhor defesa, por exemplo.
Uniformizar é não só controlar, como, bem pior que isso, tornar mais fácil o extermínio por um único vírus!
(Seja ele ideológico ou animal)
Ou, no caso da morte, ensinar-nos o choro da culpa em vez da celebração da dádiva que aquela Pessoa foi!
INSPIRAÇÃO:
É coisa dos que não cultivam a dúvida.
Nem se enganam!
A mim serve-me de pouco.
Para chegar ao minimalismo e simplicidade do "E Trazer-Te De Volta Dos Mortos", ouvi largas dezenas de horas de cânticos (as mais das vezes meras percussões vocais) funerários, de várias culturas, ainda não muito contaminadas.
Não por ser um conhecedor da sociologia da Morte, mas por saber onde ela mora, a dada altura comecei a ouvir o que mais tarde gravei.
(Sim, ouvi - nada do que fazemos é realmente nosso - em dada altura o Universo conjura e desenha-nos aquilo na cabeça!)
O RIO:
Ter lido num comentário acerca desse tema, onde procuro todas as pequenas memórias de quem já foi, que no fundo celebra a Morte: "é um enleio", "belo e tranquilo" é, não só mais um grande "cachet", como a certeza que muito recebi daquela pessoa que ali celebro para assim a lembrar e a esperança que muitos que ouçam o trabalho possam ir, por breves minutos, num enleio belo e tranquilo, revisitar os que já foram.
Digam-lhes até sempre por mim!
NOTA:
Quis aprimorar e fiz uma remix:
(Clicar na imagem abaixo)